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REDES SOCIAIS E INSTITUIÇÕES NA CONSTRUÇÃO DO …

REDES SOCIAIS E INSTITUI ESNA CONSTRU O do estado E DASUA PERMEABILIDADE*Eduardo Cesar MarquesRBCS Vol. 14 no 41 outubro/99 Esse artigo apresenta um estudo sobre asrela es entre estado e sociedade na formula oe gest o de uma pol tica p blica urbana. A inves-tiga o analisa a pol tica de saneamento b sicoimplementada no Rio de Janeiro entre 1975 e1996 pela empresa estadual concession ria dosservi os a Cedae (Marques, 1998a). Utilizei ummodelo relacional, baseando a an lise, funda-mentalmente, no estudo da rede de rela es en-tre indiv duos, grupos e organiza es que consti-tui a comunidade profissional do saneamento emn vel local. Essa rede nos permite analisar a cons-titui o da Cedae como organiza o estatal aolongo dos anos, a din mica do poder no seuinterior, e a sua inser o no ambiente pol tico noqual ela opera, assim como explicar o padr o decontrata o de empresas privadas respons veispor obras e servi os de engenharia.

REDES SOCIAIS E INSTITUIÇÕES NA CONSTRUÇÃO DO ESTADO E DA SUA PERMEABILIDADE 47 dos trabalhos de Granovetter (1973), White (1981) e Burt (1992).

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1 REDES SOCIAIS E INSTITUI ESNA CONSTRU O do estado E DASUA PERMEABILIDADE*Eduardo Cesar MarquesRBCS Vol. 14 no 41 outubro/99 Esse artigo apresenta um estudo sobre asrela es entre estado e sociedade na formula oe gest o de uma pol tica p blica urbana. A inves-tiga o analisa a pol tica de saneamento b sicoimplementada no Rio de Janeiro entre 1975 e1996 pela empresa estadual concession ria dosservi os a Cedae (Marques, 1998a). Utilizei ummodelo relacional, baseando a an lise, funda-mentalmente, no estudo da rede de rela es en-tre indiv duos, grupos e organiza es que consti-tui a comunidade profissional do saneamento emn vel local. Essa rede nos permite analisar a cons-titui o da Cedae como organiza o estatal aolongo dos anos, a din mica do poder no seuinterior, e a sua inser o no ambiente pol tico noqual ela opera, assim como explicar o padr o decontrata o de empresas privadas respons veispor obras e servi os de engenharia.

2 O estudodessa realidade emp rica datada e espec fica per-mite apresentar um modelo de an lise de utiliza- o muito mais ampla sobre as a es do estado ,al m de iluminar aspectos do estado brasileiro degrande import ncia para o debate pol tico sobreas transforma es introduzidas recentemente, co-mo o clientelismo e o corporativismo estatais e aprivatiza o do estado , mostrando os limites doimpacto dos mecanismos formais sobre tais artigo se divide em tr s partes, al m destaintrodu o e da conclus o. Considerando a peque-na divulga o da metodologia de an lise de redessociais na literatura nacional, apresento, na primei-ra parte, os atores SOCIAIS e pol ticos consideradosno estudo, assim como as principais caracter sticasdas REDES SOCIAIS . A segunda parte discute algumasquest es conceituais, problematizando a aplica oda perspectiva relacional ao objeto emp rico daspol ticas estatais no Brasil e construindo os concei-tos utilizados na an terceira se o apresenta a pesquisa realiza-da, destacando as quest es mais importantes comrela o din mica da pol tica p blica.

3 Ap s umar pida introdu o sobre os resultados mais geraisda pesquisa e as principais quest es metodol gi-cas envolvidas, mostro como a rede de rela esleva consolida o institucional da empresa esta-* Agrade o a Argelina Figueiredo e a Simone Diniz, assimcomo a dois pareceristas an nimos da RBCS, as obser-va es feitas vers o preliminar deste artigo. Desneces-s rio dizer que as inconsist ncias ainda presentes s o deminha inteira BRASILEIRA DE CI NCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 41tal, como os grupos e indiv duos da empresa serelacionam com o seu ambiente pol tico e de queforma os campos do p blico e do privado seinterpenetram no interior da comunidade profissi-onal, dando origem a um padr o de rela es quedenomino fim, resumo as tend ncias observadas eos principais avan os anal ticos da pesquisa paraan lises futuras de pol ticas do SOCIAIS , REDES e pol ticasp blicasA an lise de REDES nos permite identificardetalhadamente os padr es de relacionamentoentre atores em uma determinada situa o social,assim como as suas mudan as no tempo.

4 Esseestruturalismo de origem emp rica apresenta gran-de potencialidade para o estudo da rela o entrep blico e privado na formula o e gest o de a esdo estado . O modelo desenvolvido aqui consideraque as pol ticas estatais podem ser explicadas, pelomenos uma parcela significativa delas, pelo estudodas intera es entre dois atores pol ticos: os capi-tais presentes em cada pol tica e os atores estataiscom ela envolvidos, tendo a comunidade profissi-onal da pol tica como campo ou Acomunidade n o foi considerada como ator pol ti-co efetivo, j que apresenta grande fragilidade en o desenvolve a es coletivas. Apesar disso, apesquisa mostrou a sua import ncia como campoonde se d o as intera es entre os atores estatais eos capitais do setor. 2A import ncia desses atores tem origem nasua capacidade de realizar a es baseadas emseus destacados recursos de poder, assim comona ocupa o de determinadas posi es na cadeiade produ o das a es do estado (dentro e foradele), que lhes conferem maior ou menor capaci-dade de fazer com que o estado elabore e execu-te pol ticas segundo seus interesses an lise de seus padr es de intera o, presentese herdados, formando uma rede de rela es, ex-plica in meras dimens es da pol tica, tanto noque se refere a seu desenvolvimento e resultados(que pertencem ao mundo da pr tica pol tica),quanto no que diz respeito ao encontro entreprojetos e vis es de mundo (que fazem parte domundo das id ias).

5 Entende-se aqui por rede social o campo,presente em determinado momento, estruturadopor v nculos entre indiv duos, grupos e organiza- es constru dos ao longo do tempo. Esses v ncu-los t m diversas naturezas, e podem ter sidoconstru dos intencionalmente, embora a sua maio-ria tenha origem em rela es herdadas de outroscontextos. Podemos imaginar a rede como com-posta por v rias camadas , cada qual associada aum tipo de rela o e a um dado per odo de elas encontram-se em constante intera o etransforma o, embora o peso relativo das rela- es herdadas torne essa din mica pressuposto central da an lise de redessociais, incorporado aqui, o de que o social estruturado por in meras dessas REDES de relacio-namento pessoal e organizacional de diversas na-turezas.

6 A estrutura geral e as posi es dos atoresnessas REDES moldam as suas a es e estrat gias(constrangendo inclusive as alian as e confrontosposs veis), ajudam a construir as prefer ncias, osprojetos e as vis es de mundo (j que esses bensimateriais tamb m circulam e se encontram nasredes) e d o acesso diferenciado a recursos depoder dos mais variados tipos, que em in meroscasos s o veiculados pelas REDES (desde status eprest gio at recursos mais facilmente mensur -veis, como dinheiro e informa o).As REDES s o, portanto, a estrutura do campo nointerior do qual est o imersos os atores SOCIAIS e pol -ticos relevantes em cada situa o O tra ocomum an lise de REDES o enfoque central nas re-la es SOCIAIS , preocupa o antiga das ci ncias soci-ais. Embora tenham sido as preocupa es emp ricasque motivaram as primeiras d cadas de pesquisa so-bre o assunto, os esfor os anal ticos recentes basea-dos no estudo das REDES indicam a preocupa o coma funda o de uma sociologia relacional , ou com arecupera o, em outras bases t cnicas, das preocupa- es originais presentes em cl ssicos da Sociologiacomo George Simmel (Emirbayer, 1997; Emirbayer eGoodwin, 1994; White, 1992).

7 Da mesma forma, aan lise de REDES tem possibilitado integrar economiae sociedade de uma maneira que recupera a melhortradi o de Max Weber e Karl Polanyi, como o casoREDES SOCIAIS E INSTITUI ES NA CONSTRU O do estado E DA SUA PERMEABILIDADE47dos trabalhos de Granovetter (1973), White (1981) eBurt (1992).Essa sociologia relacional , portanto, n opretende ser nova, embora a utiliza o dos m to-dos e das t cnicas recentes permita focalizar em umnovo patamar anal tico as rela es, ao inv s dosatributos de grupos e indiv duos. As an lises criti-cam de maneira impl cita ou expl cita os estudosque tentam compreender os fen menos sociaisusando apenas dados de categorias SOCIAIS ouatributos, em vez das informa es referentes arela es. Dados de atributo dizem respeito a carac-ter sticas ou qualidades, enquanto dados relacio-nais envolvem contatos, v nculos e conex es querelacionam os agentes entre si, e n o podem serreduzidos s propriedades dos atores individuais(Scott, 1992; Emirbayer, 1997; Emirbayer e Goo-dwin, 1994).

8 Apesar de importantes para a descri- o de in meros fen menos, as caracter sticas ouatributos n o dizem respeito propriamente s a essociais, mas, na melhor das hip teses, a seus agen-tes. Nesse sentido, elas explicam uma parte dosfen menos, mas deixam de lado importantes pro-cessos pass veis de estudo apenas pela considera- o direta de v nculos e rela acordo com essa vertente de an lise, asinstitui es, a estrutura social e as caracter sticas deindiv duos e grupos s o cristaliza es dos movi-mentos, trocas e encontros nas m ltiplas e inter-cambiantes REDES de rela es ligadas e superpos-tas. A mat ria-prima das ci ncias SOCIAIS seria,portanto, o conjunto das rela es, v nculos e trocasentre entidades, e n o suas caracter sticas (White,1992; Tilly, 1992). Segundo Tilly (1992), j estariaem constitui o uma sociologia estrutural, quedifere das posturas estruturalistas anteriores naSociologia por n o partir de postula es de largaescala sobre as estruturas SOCIAIS , nem tampoucotentar derivar delas os fen menos SOCIAIS (Ferrand,1997; White, 1992; Tilly, 1992; Knoke, 1990; Fors e Langlois, 1997).

9 A sociologia relacional parte do estudo deuma s rie de situa es concretas para investigar aintera o entre, de um lado, as estruturas presen-tes, constitu das pelos padr es de intera es etrocas e as posi es particulares dos v rios ato-res, e, de outro, as a es, estrat gias, constrangi-mentos, identidades e valores de tais essa linha de an lise, as REDES moldam asa es e as estrat gias, mas estas tamb m as cons-troem e reconstroem continuamente, em um pro-cesso din mico e cont nuo. Da mesma forma, REDES e identidades se constituem mutuamentede uma forma complexa que apenas come a aser for a da an lise de REDES SOCIAIS est napossibilidade de se construir estudos muito preci-sos em termos descritivos sem impor uma estruturaa priori realidade e aos atores, criando um tipomuito particular de individualismo relacional.

10 Estetipo de an lise permite a realiza o de investiga- es sofisticadas e diretas sobre os padr es derela o entre indiv duos e grupos, aproximando-nos dos t o decantados microfundamentos da a osocial sem a perda de vis o da estrutura. impor-tante salientar, entretanto, que a potencialidadeaberta pela metodologia n o substitui a an lise deatributos e estruturas formais, para o que in merasoutras perspectivas como o neoinstitucionalismo, aescolha racional e a an lise espacial continuamtendo muito a contribuir. No entanto, como todanova ferramenta anal tica, a an lise de REDES ilu-mina um amplo leque de aspectos da realidadesocial que permaneciam at ent o obscuros, per-mitindo novos olhares sobre fen menos poucocompreendidos, ou mesmo a constru o anal ticade novos objetos de base nessa metodologia, podemos pelaprimeira vez analisar a intera o entre estado esociedade sem recorrer a um padr o de rela es apriori, dando espa o para que os dois campos seinterpenetrem, o que nos possibilita interpretar demaneira mais precisa a realidade social.


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