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Abreviaturas: simplificação ou complexidade da escrita ...

abreviaturas : simplifica o ou complexidade da escrita ? Renata Ferreira Costa Mestranda da rea de Filologia e L ngua Portuguesa do Departamento de Letras Cl ssicas e Vern culas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ci ncias Humanas da Universidade de S o Paulo; bolsista FAPESP. Contato: Os documentos manuscritos antigos s o fontes diretas de informa o para o estudo da hist ria de um povo, beneficiando n o s historiadores, mas tamb m ling istas, fil logos, soci logos e o p blico interessado nas peculiaridades e transforma es de nossa hist ria ling stico-social. Nos ltimos anos, o Brasil vem demonstrando uma certa preocupa o com a preserva o e o estudo desses documentos. Fato que tem desencadeado alguns projetos, como, por exemplo, o Resgate Bar o do Rio Branco , projeto que resgata a documenta o do Brasil col nia que permanece no Arquivo Ultramarino de Lisboa e representa 80% dos documentos referentes ao per odo colonial que se encontram no exterior, e o projeto Filologia Bandeirante , iniciativa do Departamento de Letras Cl ssicas e Vern culas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ci ncias Humanas da USP, sob a coordena o do professor Heitor Megale, que se dedica busca de documentos originais manuscritos localizados em acervos p blicos e privados, pesquisando novas informa es sobre a poca das ba

interpretação. Para tanto, empreender-se-á aqui um breve estudo das origens do uso das abreviaturas, sua função e sua tipologia. O corpus , pertencente ao Arquivo Público do Estado de

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1 abreviaturas : simplifica o ou complexidade da escrita ? Renata Ferreira Costa Mestranda da rea de Filologia e L ngua Portuguesa do Departamento de Letras Cl ssicas e Vern culas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ci ncias Humanas da Universidade de S o Paulo; bolsista FAPESP. Contato: Os documentos manuscritos antigos s o fontes diretas de informa o para o estudo da hist ria de um povo, beneficiando n o s historiadores, mas tamb m ling istas, fil logos, soci logos e o p blico interessado nas peculiaridades e transforma es de nossa hist ria ling stico-social. Nos ltimos anos, o Brasil vem demonstrando uma certa preocupa o com a preserva o e o estudo desses documentos. Fato que tem desencadeado alguns projetos, como, por exemplo, o Resgate Bar o do Rio Branco , projeto que resgata a documenta o do Brasil col nia que permanece no Arquivo Ultramarino de Lisboa e representa 80% dos documentos referentes ao per odo colonial que se encontram no exterior, e o projeto Filologia Bandeirante , iniciativa do Departamento de Letras Cl ssicas e Vern culas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ci ncias Humanas da USP, sob a coordena o do professor Heitor Megale, que se dedica busca de documentos originais manuscritos localizados em acervos p blicos e privados, pesquisando novas informa es sobre a poca das bandeiras e o portugu s ent o praticado.

2 A leitura dessa documenta o antiga uma tarefa dif cil que vai muito al m da pr tica e familiariza o com o manuscrito, exigindo o conhecimento da poca em que foi escrito, ao lado de certa intimidade com a caligrafia, a grafia, o vocabul rio, a pontua o, a divis o de palavras, a paragrafa o, a numera o e o sistema de abreviaturas comuns na poca. Abreviatura, do grego braqui (curto) e graphein (escrever), uma forma reduzida de se escrever uma palavra. O que se abrevia s o s labas, palavras ou frases de um conjunto escrito, das quais se reduz alguma ou algumas de suas letras. Segundo Mar n Mart nez (2002, p. 136), toda abreviatura possui dois elementos: aquele que abrevia e o que abreviado. Al primero se le llama signo abreviativo; al segundo, palabra o frase abreviada o, simplemente, abreviatura . O uso das abreviaturas , embora existisse desde a poca romana, torna-se mais freq ente no per odo medieval, poca em que, como salienta Silva Neto (1956, p.)

3 31), um dos erros mais freq entes na leitura dos manuscritos se d justamente devido ignor ncia de siglas e abreviaturas . Se por um lado esse sistema abreviativo baseava-se na tradi o latina, por outro, possu a caracter sticas pr prias de textos em l ngua portuguesa, o que tornou, de certa forma, a interpreta o da escrita mais complexa para os leitores e os profissionais do texto, como pale grafos, fil logos e historiadores. Considerando-se essa problem tica apresentada pelo uso das abreviaturas em documentos manuscritos, este artigo objetiva examinar esse aspecto da escrita da l ngua portuguesa em um documento setecentista sobre a hist ria de S o Paulo Mem ria Hist rica da Capitania de S o Paulo e todos os seus Memor veis Sucessos -, de autoria, ainda que contestada, de Manoel Cardoso de Abreu. Mais especificamente pretende-se verificar em que medida as abreviaturas facilitavam a escrita e/ou dificultavam sua interpreta o.

4 Para tanto, empreender-se- aqui um breve estudo das origens do uso das abreviaturas , sua fun o e sua tipologia. O corpus, pertencente ao Arquivo P blico do Estado de S o Paulo (identifica o E11571), um c dice datado de 1796, com 323 p ginas escritas em frente e verso, encadernado com capa dura. Est em timo estado de conserva o e possui uma grande riqueza hist rico-social e ling stica. O objetivo principal do estudo em que se insere esse documento preparar sua edi o semidiplom tica. Esse tipo de edi o, no que concerne s abreviaturas , prop e o seu desenvolvimento com base nas formas por extenso presentes no modelo, transcrevendo em it lico os caracteres acrescentados em substitui o ao sinal abreviativo (CAMBRAIA, 2005, p. 129). Os obst culos referentes ao desdobramento das abreviaturas do corpus surgiram na medida em que os manuais esgotaram suas possibilidades ou quando uma mesma abreviatura trazia m ltiplas interpreta es.

5 A origem do sistema abreviativo se encontra em um tipo de escrita muito praticada na Roma antiga, a taquigrafia. Do grego tachvs (r pido) e graphein (escrever), um tipo de escrita desenvolvida para ser t o r pida quanto a fala, j que o costume era transcrever os discursos proferidos ao vivo. Apesar das notas tironianas (notae tironianae), criadas por Marco T lio Tiro, liberto de C cero, grande orador romano - donde a designa o de tironianas - constitu rem o primeiro sistema taquigr fico, alguns estudiosos atribuem a inven o da taquigrafia aos hebreus, e outros, aos gregos. Estes dizem que o fil sofo e general ateniense Xenofonte j usava um sistema de abreviaturas ; aqueles alegam que a escrita de Davi faz men o pena de um escritor veloz. Segundo Millares Carlo (1929, p. 46), a partir das notas tironianas desenvolveu-se, desde o s culo II , na escrita comum, um sistema abreviativo completo e complexo, as notae iuris ou notas jur dicas, chamadas assim por encontrarem-se em c dices de conte do jur dico y formado por un conjunto de abreviaturas por suspensi n, contracci n, signos especiales derivados de notas tironianas o verdaderas notas taquigr ficas, signos abreviativos con valor general y signos con valor relativo o determinado.

6 Lima (2006, p. 11) salienta que este tipo de abreviaturas , as notas jur dicas, n o tiveram a mesma popularidade das notas tironianas, mas algumas persistem, como (verbi gratia, por exemplo) e (salvo melhor ju zo). A prolifera o das abreviaturas se explica, conforme Flexor (1990: XI), por dois fatores: ocupar menos espa o, devido raridade e conseq ente custo elevado do material de escrita , e economizar tempo escrevendo mais depressa. Esse uso excessivo suscitou, em fins da Rep blica romana, como salienta Spina (1994, p. 49-50), na cria o de medidas que condicionavam seu emprego, embora n o surtissem efeito. O abuso diminuiu com a utiliza o da letra cursiva, mas, durante o Renascimento, o h bito das abreviaturas continuou, a ponto de, para as obras jur dicas, serem at publicadas t buas especiais para a leitura das siglas . Al m das notas tironianas ou taquigr ficas e das notas jur dicas, havia um outro tipo de abreviaturas : os nomes sagrados (nomina sacra), tipo de abreviaturas , por contra o, de car ter sagrado, usadas na escrita do Novo Testamento.

7 Seu uso estava ligado n o economia de tempo ou espa o, mas rever ncia a Deus. Segundo Lima (2006, p. 12), na tradu o da B blia para o latim houve a conserva o da escrita hebraica no que concerne a algumas abreviaturas , como por exemplo, XPO (Cristo) e IHU (Iesu). Atualmente, vivendo na era da inform tica, nos deparamos com um novo tipo de linguagem oriunda do mundo virtual, o internet s , um conjunto de abrevia es de s labas e simplifica es de palavras que leva em conta a pron ncia e a elimina o de acentos (MARCONATO, 2006, p. 22). Em busca de ganhar tempo e conversar com o maior n mero de pessoas poss vel, a solu o foi inventar um jarg o repleto de abrevia es e s mbolos (emoticons), que tem suscitado, como na antiguidade, discuss es sobre os riscos que poderia provocar na l ngua padr o. As abreviaturas , embora n o apresentem regularidade ou sistematiza o nos documentos luso-brasileiros, podem ser classificadas, segundo a natureza do sinal abreviativo, em: 1.

8 Por sinal geral: composta por um signo abreviativo ponto ( . ), ap strofo ( ), linha sobreposta letra ( ) ou tra o envolvente (@), que indica na palavra afetada a falta de uma ou mais letras, mas sem dizer quais. Pode ser subdividida em: Abreviatura por suspens o ou ap cope: supress o de elementos finais da palavra: an. (=anno); Fr. (=Frei); pag. (=pagina). De acordo com Spina (1994, p. 51), o desenvolvimento desse sistema se d a partir da escrita carol ngia na Europa. O ponto, segundo Millares Carlo (1929, p. 51), o signo pr prio da abreviatura por suspens o. Exemplos de abreviaturas por suspens o ou ap cope presentes no c dice Mem ria Hist rica da Capitania de S o Paulo e todos os seus Memor veis Sucessos Sigla: derivada da palavra singula (letterae singulae), foi, conforme Spina (1994, p. 50), o processo mais antigo de abrevia o por suspens o ou ap cope, e seu uso se manteve durante toda a Idade M dia.

9 Consiste na representa o da palavra pela letra inicial Frei Preambulo Iaboat o folha 91 pagina Ibidem mai scula, seguida de ponto. Segundo Flexor (1990: XII), podem ser de tr s tipos: Siglas simples: quando indicadas apenas por uma letra: D. (= Dom ou = Dona); F. (= Fiel). Dom ou Dona Fiel Siglas simples presentes no c dice Mem ria Hist rica da Capitania de S o Paulo e todos os seus Memor veis Sucessos Siglas reduplicadas: quando a letra repetida para significar o plural das palavras representadas: (= Desembargadores); (= Padres); (= Reverendos), ou o seu grau superlativo. Desembargadores Padres Reverendos Siglas reduplicadas presentes no c dice Mem ria Hist rica da Capitania de S o Paulo e todos os seus Memor veis Sucessos Siglas compostas ou Acr nimos: quando s o formadas por duas ou tr s primeiras letras da palavra ou pelas letras predominantes do voc bulo: MOBRAL (= Movimento Brasileiro de Alfabetiza o); SIDA (S ndrome de Imuno- Defici ncia Adquirida), OTAN (Organiza o do Tratado do Atl ntico Norte).

10 Abreviatura por contra o ou s ncope: representa a supress o de letras do meio do voc bulo: Roiz (= Rodriguez); Frz (= Fernandez); Snr (= Senhor). Spina (1994, p. 51) destaca que esse tipo de abreviatura, quando fixa apenas as letras inicial e final, pode tornar dif cil a identifica o da palavra, por isso, para amenizar a dificuldade, conservam-se letras intermedi rias, chamadas caracter sticas, como nos exemplos citados. Senhor Fernandez Alvarez Gon alvez Rodriguez Martinz abreviaturas por contra o ou s ncope presentes no c dice Mem ria Hist rica da Capitania de S o Paulo e todos os seus Memor veis Sucessos Abreviatura por letras sobrescritas: sobreposi o da ltima ou das ltimas letras da palavra: Illmo (= Illustrissimo); pa (= para); Fevro (= Fevereiro). Seu uso, segundo Spina (1994, p. 51), muito raro entre os romanos, generalizou-se a partir do s culo XII com a escritura visig tica.


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