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Microfísica do Poder - Nodo50

Microf sica do PoderMichel FoucaultOrganiza o , introdu o e Revis o T cnica de Roberto ndiceI Verdade e Poder 4II Nietzsche, a genealogia do poder12 III Sobre a justi a popular23IV Os intelectuais e o poder41V O nascimento da medicina social46VI O nascimento do hospital 57 VII A casa dos loucos65 VIII Sobre a pris o 73IX Poder corpo81X Sobre a geografia 86XI Genealogia e Poder 94 XII Soberania e disciplina 100 XIII A pol tica da sa de no s culoXVIII 107 XIV O olho do Poder 114XV N o ao sexo rei126 XVI Sobre a hist ria dasexualidade137 XVII A governamentalidade163 IVERDADE E PODERA lexandre Fontana:Voc poderia esbo ar brevemente o trajeto que o levou de seu trabalho sobre a loucura na idadecl ssica ao estudo da criminalidade e da delinq ncia?

Michel Foucault: Quando fiz meus estudos, por volta dos anos 50−55, um dos problemas que se colocava era o do estatuto político da ciência e as funções ideológicas que podia veicular. Não era exatamente o problema Lyssenko que dominava, mas creio que em torno deste caso escandaloso, que durante

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  Cisa, Poder, Michel, Foucault, Michel foucault, Formic, 237 sica do poder

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1 Microf sica do PoderMichel FoucaultOrganiza o , introdu o e Revis o T cnica de Roberto ndiceI Verdade e Poder 4II Nietzsche, a genealogia do poder12 III Sobre a justi a popular23IV Os intelectuais e o poder41V O nascimento da medicina social46VI O nascimento do hospital 57 VII A casa dos loucos65 VIII Sobre a pris o 73IX Poder corpo81X Sobre a geografia 86XI Genealogia e Poder 94 XII Soberania e disciplina 100 XIII A pol tica da sa de no s culoXVIII 107 XIV O olho do Poder 114XV N o ao sexo rei126 XVI Sobre a hist ria dasexualidade137 XVII A governamentalidade163 IVERDADE E PODERA lexandre Fontana:Voc poderia esbo ar brevemente o trajeto que o levou de seu trabalho sobre a loucura na idadecl ssica ao estudo da criminalidade e da delinq ncia?

2 michel foucault :Quando fiz meus estudos, por volta dos anos 50 55, um dos problemas que se colocava era o doestatuto pol tico da ci ncia e as fun es ideol gicas que podia veicular. N o era exatamente oproblema Lyssenko que dominava, mas creio que em torno deste caso escandaloso, que durantetanto tempo foi dissimulado e cuidadosamente escondido, apareceu uma s rie de quest esinteressantes. Duas palavras podem resumi las: Poder e saber. Creio haver escrito a Hist ria daLoucura dentro deste contexto. Para mim, tratava se de dizer o seguinte: se perguntarmos a umaci ncia como a f sica te rica ou a qu mica org nica quais as suas rela es com as estruturaspol ticas e econ micas da sociedade, n o estaremos colocando um problema muito complicado?

3 N o ser muito grande a exig ncia para uma explica o poss vel? Se, em contrapartida, tomarmosum, saber como a psiquiatria, n o ser a quest o muito mais f cil de ser resolvida porque o perfilepistemol gico da psiquiatria pouco definido, e porque a pr tica psiqui trica est ligada a umas rie de institui es, de exig ncias econ micas imediatas e de urg ncias pol ticas deregulamenta es sociais? No caso de uma ci ncia t o "duvidosa" como a psiquiatria, n opoder amos apreender de forma mais precisa o entrela amento dos efeitos de Poder e de saber?No Nascimento da Cl nica, foi a mesma quest o que quis colocar a respeito da medicina. Elacertamente possui uma estrutura muito mais s lida do que a psiquiatria, mas tamb m est enraizada profundamente nas estruturas sociais.

4 O que me "desconcertou" um pouco, na poca, foio fato de que esta quest o que eu me colocava n o interessou em absoluto aqueles para quem eua colocava. Consideraram que era um problema politicamente sem import ncia, eepistemologicamente sem que havia tr s raz es para isto. A primeira que o problema dos intelectuais marxistas naFran a e nisto desempenhavam o papel que lhes era prescrito pelo era de se fazerreconhecer pela institui o universit ria e pelo establishment; portanto, deviam colocar as mesmasquest es que eles, tratar dos mesmos problemas e dos mesmos dom nios. "Apesar de sermosmarxistas, n o estamos alheios ao que vos preocupa; por m, somos os nicos a dar s vossasvelhas preocupa es solu es novas".

5 O marxismo queria se fazer aceitar como renova o datradi o liberal, universit ria (como, de modo mais amplo, na mesma poca, os comunistas seapresentavam como os nicos suscet veis de retomar e revigorar a tradi o nacionalista). Da , nodom nio que tratamos, o fato de terem querido retomar os problemas mais acad micos e maisnobres" da hist ria das ci ncias. A medicina, a psiquiatria, n o eram nem muito nobres nem muitos rias, n o estavam altura das grandes formas do racionalismo cl segunda raz o que o estalinismo p s estalinista, excluindo do discurso marxista tudo o quen o fosse repeti o amedrontada do que j tinha sido dito, n o permitia a abordagem de caminhosainda n o percorridos. N o havia conceitos j formados, vocabul rio validado para tratar dequest es como a dos efeitos de Poder da psiquiatria ou o funcionamento pol tico da que inumer veis trocas tinham ocorrido desde Marx at a poca atual, passando porEngels e L nin, entre os universit rios e os marxistas, realimentando toda uma tradi o de discursosobre a "ci ncia" no sentido que lhe era dado no s culo XIX, os marxistas pagavam sua fidelidadeao velho positivismo com uma surdez radical com rela o a todas as quest es de psiquiatriapavloviana.

6 Para certos m dicos pr ximos do , a pol tica psiqui trica, a psiquiatria comopol tica, n o eram coisas que eu havia tentado fazer neste dom nio foi recebido com um grande sil ncio por parte daesquerda intelectual francesa. E foi somente por volta de 68, apesar da tradi o marxista e apesardo , que todas estas quest es adquiriram uma significa o pol tica com uma acuidade que eun o suspeitava e que mostrava quanto meus livros anteriores eram ainda t midos e a abertura pol tica realizada naqueles anos, sem d vida eu n o teria tido coragem pararetomar o fio destes problemas e continuar minha pesquisa no dom nio da penalidade, das pris ese das , talvez haja uma terceira raz o, mas n o estou em absoluto seguro de que tenhadesempenhado um papel.

7 Entretanto, me pergunto se n o havia por parte dos intelectuais , ou dos que lhe estavam pr ximos, uma recusa em colocar o problema da reclus o dautiliza o pol tica da psiquiatria ou, de forma mais geral, do esquadrinhamento disciplinar dasociedade. Sem d vida, por volta dos anos 55 60, poucos tinham conhecimento da amplitude realdo Gulag, mas creio que muitos a pressentiam, muitos tinham a sensa o de que sobre estascoisas melhor era n o falar. zona perigosa, sinal vermelho. claro que dif cil avaliarretrospectivamente o seu grau de consci ncia. Mas de qualquer forma voc s bem sabem com quefacilidade a dire o do Partido, que n o ignorava nada, podia lan ar palavras de ordem, impedirque se falasse disto ou daquilo, desqualificar os que edi o do Petit Larousse que acaba de sair diz: " foucault :: fil sofo que funda sua teoria dahist ria na descontinuidade".

8 Isto me deixa pasmado. Sem d vida me expliquei de formainsuficiente em As Palavras e as Coisas, se bem que tenha falado muito acerca disto. Pareceu meque em certas formas de saber emp rico como a biologia, a economia pol tica, a psiquiatria, amedicina etc., o ritmo das transforma es n o obedecia aos esquemas suaves e continuistas dedesenvolvimento que normalmente se admite. A grande imagem biol gica de uma matura o daci ncia ainda alimenta muitas an lises hist ricas; ela n o me parece historicamente ci ncia como a medicina, por exemplo, at o fim do s culo XVIII, temos um certo tipo dediscurso cujas lentas transforma es 25, 30 anos romperam n o somente com as proposi es"verdadeiras" que at ent o puderam ser formuladas, mas, mais profundamente, com as maneirasde falar e de ver, com todo o conjunto das pr ticas que serviam de suporte medicina.

9 N o s osimplesmente novas descobertas; um novo "regime" no discurso e no saber, e isto ocorreu empoucos anos. algo que n o se pode negar a partir do momento em que se l os textos comaten o. Meu problema n o foi absolutamente de dizer: viva a descontinuidade, estamos nela enela ficamos; mas de colocar a quest o: como poss vel que se tenha em certos momentos e emcertas ordens de saber, estas mudan as bruscas, estas precipita es de evolu o, estastransforma es que n o correspondem imagem tranq ila e continuista que normalmente se faz?Mas o importante em tais mudan as n o se ser o r pidas ou de grande amplitude, ou melhor,esta rapidez e esta amplitude s o apenas o sinal de outras coisas: uma modifica o nas regras deforma o dos enunciados que s o aceitos como cientificamente verdadeiros.

10 N o portanto umamudan a de conte do (refuta o de erros antigos, nascimento de novas verdades), nem tampoucouma altera o da forma te rica (renova o do paradigma, modifica o dos conjuntos sistem ticos).O que est em quest o o que rege os enunciados e a forma como estes se regem entre si paraconstituir um conjunto de proposi es aceit veis cientificamente e, consequentemente,suscept veis de serem verificadas ou infirmadas por procedimentos. cient ficos. Em suma,problema de regime, de pol tica do enunciado cient fico. Neste n vel n o se trata de saber qual opoder que age do exterior sobre a ci ncia, mas que efeitos de Poder circulam entre os enunciadoscient ficos; qual seu regime interior de Poder ; como e por que em certos momentos ele semodifica de forma o estes regimes diferentes que tentei delimitar e descrever em As Palavras e as Coisas,esclarecendo que no momento n o tentava explic los e que.


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