Example: stock market

BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO …

169 BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL: UM OLHAR SOCIOCULTURALCONSTRUTIVISTA1 Norma Lucia Neris de QueirozDiva Albuquerque Maciel1 Angela Uch a BrancoUniversidade de Bras liaResumo: Como e por que as crian as brincam? Qual o significado desta atividade em cada cultura?Estas quest es da tem tica da BRINCADEIRA e sua relev ncia para a compreens o cient fica do desenvolvimentoinfantil s o discutidas neste estudo. Analisa-se o conceito da atividade de brincar a partir de diferentes autores,privilegiando quem a v como socialmente constru da. Aborda-se a import ncia da BRINCADEIRA do faz-de-contacomo atividade que promove a representa o e a metarepresenta o no DESENVOLVIMENTO da crian a. Final-mente reflete-se sobre a BRINCADEIRA no contexto pedag gico vivenciado pelas crian as em institui es deeduca o infantil, o papel do professor no DESENVOLVIMENTO e educa o : BRINCADEIRA ; abordagem sociocultural; DESENVOLVIMENTO infantil; educa o AND CHILD DEVELOPMENT: A SOCIOCULTURALCONSTRUCTIVIST APPROACHA bstract: How and why do children play?

171 No ‘Ciclo de Debates sobre o Brincar’1, Car- valho, Salles, Guimarães e Debortoli (2005), obser-varam a diversidade de discursos e concepções do

Tags:

  Brincar

Information

Domain:

Source:

Link to this page:

Please notify us if you found a problem with this document:

Other abuse

Transcription of BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO …

1 169 BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL: UM OLHAR SOCIOCULTURALCONSTRUTIVISTA1 Norma Lucia Neris de QueirozDiva Albuquerque Maciel1 Angela Uch a BrancoUniversidade de Bras liaResumo: Como e por que as crian as brincam? Qual o significado desta atividade em cada cultura?Estas quest es da tem tica da BRINCADEIRA e sua relev ncia para a compreens o cient fica do desenvolvimentoinfantil s o discutidas neste estudo. Analisa-se o conceito da atividade de brincar a partir de diferentes autores,privilegiando quem a v como socialmente constru da. Aborda-se a import ncia da BRINCADEIRA do faz-de-contacomo atividade que promove a representa o e a metarepresenta o no DESENVOLVIMENTO da crian a. Final-mente reflete-se sobre a BRINCADEIRA no contexto pedag gico vivenciado pelas crian as em institui es deeduca o infantil, o papel do professor no DESENVOLVIMENTO e educa o : BRINCADEIRA ; abordagem sociocultural; DESENVOLVIMENTO infantil; educa o AND CHILD DEVELOPMENT: A SOCIOCULTURALCONSTRUCTIVIST APPROACHA bstract: How and why do children play?

2 What does such activity means in different cultures? Theseissues are discussed in this present paper, which stresses its relevance for the scientific understanding of childdevelopment. The concept of play according to different theorists is analyzed; especially those that conceiveplay as socially constructed activity. It is verified the role of pretend-play as an activity of representation andmetarepresentation along child development. Finally on discusse how such theoretical ideas can be translatedinto educational practices within the contexts of child care and preschool settings, stressing the role of teacherin promoting child development and words: play; sociocultural approach; child development; early childhood oEm grande parte das sociedades contempor -neas, a inf ncia marcada pelo brincar , que faz partede pr ticas culturais t picas, mesmo que esteja muitoreduzida face demanda do trabalho infantil que ain-da se insere no cotidiano dos segmentos sociais debaixa renda.

3 A BRINCADEIRA permite crian a vivenciaro l dico e descobrir-se a si mesma, apreender a rea-lidade, tornando-se capaz de desenvolver seu poten-cial criativo (Siaulys, 2005). Nesta perspectiva, as quebrincam aprendem a significar o pensamento dos par-ceiros por meio da metacogni o, t pica dos proces-sos simb licos que promovem o DESENVOLVIMENTO dacogni o (Kishimoto, 2002) e de dimens es que inte-1 Recebido em 23/06/06 e aceito para publica o em 20/10 Endere o para correspond ncia: Diva Albuquerque Maciel,LABMIS, Programa de P s-gradua o em Psicologia emDesenvolvimento Humano e Sa de PED/IP UnB, Brasilia- DF,E-mail: a condi o humana (Andrensen, 2005; Branco,2005).Para a maioria dos grupos sociais, a brincadei-ra consagrada como atividade essencial ao desen-volvimento infantil. Historicamente, ela como l dicosempre esteve presente na educa o infantil, nicon vel de ensino que a escola deu passaporte livre,aberto iniciativa, criatividade, inova o por partedos seus protagonistas (Lucariello, 1995).

4 Com o ad-vento de pesquisas sobre o DESENVOLVIMENTO huma-no, observou-se que o ato de brincar conquistou maisespa o, tanto no mbito familiar, quanto no educacio-nal; no Referencial Curricular Nacional para a Edu-ca o Infantil (1998), a BRINCADEIRA est colocadacomo um dos princ pios fundamentais, defendidacomo um direito, uma forma particular de express o,pensamento, intera o e comunica o entre as cri-Paid ia, 2006, 16(34), 169-179170an as. Assim, a BRINCADEIRA cada vez mais entendi-da como atividade que, al m de promover o desen-volvimento global das crian as, incentiva a intera oentre os pares, a resolu o construtiva de conflitos, aforma o de um cidad o cr tico e reflexivo (Branco,2005; DeVries, 2003; DeVries & Zan, 1998; Tobin,Wu & Davidson, 1989; Vygotsky, 1984, 1987).Hoje, pode-se afirmar que j foi superado par-te do equ voco, de que o conte do imagin rio do brin-quedo determinava a BRINCADEIRA da crian a.

5 Segun-do Benjamin (1984), a crian a quer puxar alguma coisa, torna-secavalo, quer brincar com areia e torna-se pa-deiro, quer esconder-se, torna-se ladr o ou guar-da e alguns instrumentos do brincar arcaicodesprezam toda a m scara imagin ria (na po-ca, possivelmente vinculados a rituais): a bola,o arco, a roda de penas e o papagaio, aut nti-cos brinquedos, tanto mais aut nticos quantomenos o parecem ao adulto. (pp. 76-77).Para o autor, quando a crian a brinca, al m deconjugar materiais heterog neos (pedra, areia, ma-deira e papel), ela faz constru es sofisticadas darealidade e desenvolve seu potencial criativo, trans-forma a fun o dos objetos para atender seus dese-jos. Assim, um peda o de madeira pode virar um ca-valo; com areia, ela faz bolos, doces para sua festade anivers rio imagin ria; e, ainda, cadeiras se trans-formam em trem, em que ela tem a fun o de condu-to, imitando o adulto (Benjamin, 2002).

6 Neste trabalho, pretende-se olhar a tem ticada BRINCADEIRA enfatizando tr s aspectos: primeiroanalisar-se- o conceito da atividade de brincar a partirde autores que a v em como constru da social e cul-turalmente; segundo, ser destacada a import nciado faz-de-conta para o DESENVOLVIMENTO da crian apequena; e, por fim ser vista a BRINCADEIRA no con-texto pedag gico vivenciado por crian as em institui- es de educa o infantil, com a inten o de orientara atua o de professores deste n vel de da Atividade de brincar A BRINCADEIRA uma atividade que a crian acome a desde seu nascimento no mbito familiar (Kishimoto, 2002, p. 139) e continua com seus , ela n o tem objetivo educativo ou deaprendizagem pr -definido. A maioria dos autoresafirma que ela desenvolvida pela crian a para seuprazer e recrea o, mas tamb m permite a ela interagircom pais, adultos e coet neos, bem como explorar omeio a crian a um ser em desenvolvimen-to, sua BRINCADEIRA vai se estruturando com base noque capaz de fazer em cada momento.

7 Isto , elaaos seis meses e aos tr s anos de idade tem possibi-lidades diferentes de express o, comunica o e rela-cionamento com o ambiente sociocultural no qual seencontra inserida. Ao longo do DESENVOLVIMENTO , por-tanto, as crian as v o construindo novas e diferentescompet ncias, no contexto das pr ticas sociais, queir o lhes permitir compreender e atuar de forma maisampla no BRINCADEIRA das crian as evolui mais nos seisprimeiros anos de vida do que em qualquer outra fasedo DESENVOLVIMENTO humano e neste per odo, se estrutu-ra de forma bem diferente de como a compreenderamte ricos interessados na tem tica (Broug re, 1998). Apartir da BRINCADEIRA , a crian a constroi sua experi nciade se relacionar com o mundo de maneira ativa, vivenciaexperi ncias de tomadas de decis es. Em um jogo qual-quer, ela pode optar por brincar ou n o, o que caracte-r stica importante da BRINCADEIRA , pois oportuniza o de-senvolvimento da autonomia, criatividade e responsabi-lidade quanto a suas pr prias a termo cultura entendido aqui a partir dasformula es te ricas de Valsiner (2000), para quem acultura n o se refere apenas a um grupo de indiv duosque compartilham caracter sticas semelhantes, masdeve ser compreendida como media o semi tica, queintegra o sistema psicol gico individual e o universosocial das crian as dela participantes.

8 No contextoda cultura que se d a constru o social, de significa-dos, com base nas tradi es, id ias e valores do grupocultural que cria e recria padr es de participa o, dan-do origem ao DESENVOLVIMENTO de t picas categorias depensamento e de recursos de express (Spodek & Saracho, 1998) afirma que muito dif cil definir a BRINCADEIRA , mas, em certo sen-tido, ela se auto-define (p. 210). A preocupa o emconceituar o que a BRINCADEIRA n o apenas doseducadores, mas est na pauta de outros profissio-nais, dentre eles psic logos, fil sofos, historiadores eantrop Lucia Neris de Queiroz171No Ciclo de Debates sobre o brincar 1, Car-valho, Salles, Guimar es e Debortoli (2005), obser-varam a diversidade de discursos e concep es doato de brincar . Examinando essa quest o, Spodek eSaracho (1998) apontam que a dificuldade em se che-gar a uma defini o consensual sobre a brincadeiraadv m da falta de crit rios para se classificar umaatividade como tal; assim, em alguns contextos oumomentos uma atividade pode ser considerada brin-cadeira, e deixar de s -lo em outros, o que dependeda rela o que se estabelece com a situa o, do sig-nificado que assume para quem (1998), um dos representantes maisimportantes da psicologia hist rico-cultural, partiu doprinc pio que o sujeito se constitui nas rela es comos outros, por meio de atividades caracteristicamentehumanas, que s o mediadas por ferramentas t cni-cas e semi ticas.

9 Nesta perspectiva, a brincadeirainfantil assume uma posi o privilegiada para a an -lise do processo de constitui o do sujeito; com a vis o tradicional de que ela atividade natural de satisfa o de instintos infantis, oautor apresenta o brincar como uma atividade em que,tanto os significados social e historicamente produzi-dos s o constru dos, quanto novos podem ali BRINCADEIRA e o jogo de faz-de-conta seriam consi-derados como espa os de constru o de conhecimen-tos pelas crian as, na medida em que os significadosque ali transitam s o apropriados por elas de formaespec (1998), quando discute em sua teo-ria a g nese e o DESENVOLVIMENTO do psiquismo hu-mano, destaca que o processo de significa o ela-borado por meio da atividade em contextos sociaisespec ficos; o que interiorizado n o a realidadeem si mesma (conceito j ultrapassado na perspecti-va socio-construcionista), mas o que esta significatanto para os sujeitos em rela o, quanto para cadaum em particular.

10 Este movimento de interioriza otransformadora das significa es n o se d de ma-neira passiva nem direta, pois o sujeito reelabora, im-primindo sentidos privados ao significado comparti-lhado na cultura. Nesse processo ele se apropria dosigno em sua fun o de significa o, observando seu1 Universidade Federal de Minas Gerais,em 2003 e 2004,publicadono livro Brincares, em 2005,duplo referencial sem ntico, um formado pelos sis-temas constru dos ao longo da hist ria social e cul-tural dos povos, e o outro formado pela experi nciapessoal e social, evocada em cada a o ou verbali-za o do Vygotsky (1998), a crian a nasce em ummeio cultural repleto de significa es social e histori-camente produzidas, definidas e codificadas, que s oconstantemente ressignificadas e apropriadas pelossujeitos em rela o, constituindo-se, assim, em moto-res do DESENVOLVIMENTO . Neste sentido, o desenvolvi-mento humano para ele se distancia da forma como entendido por outras teorias psicol gicas, por ser vis-to como um processo cultural que ocorre necessaria-mente mediado por um outro social, no contexto dapr pria cultura, forjando-se os processos psicol gi-cos superiores, sendo a psique humana, nesta pers-pectiva, essencialmente processos psicol gicos superiores paraVygotsky (1987) s o constitu dos(.)


Related search queries