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O QUE É CIÊNCIA - Unicamp

O QUE CI NCIA? SILVIO SENO CHIBENI Departamento de Filosofia - IFCH - Unicamp - ~chibeni Resumo: Este trabalho apresenta para um p blico geral algumas das principais concep es de ci ncia defendidas por fil sofos da ci ncia desde o surgimento da ci ncia moderna, no s culo XVII. Procura-se destacar que essas concep es evolu ram na dire o de uma melhor adequa o ao que de fato se verificou na hist ria da ci ncia. ndice: 1. A vis o comum de ci ncia .. 1 2. Obje es vis o comum da ci 3 3. Popper e o 6 4. Limita es do falseacionismo .. 8 5. Lakatos: uma vis o contempor nea da ci ncia .. 12 Refer 16 1. A vis o comum de ci ncia Constitui cren a generalizada que o conhecimento fornecido pela ci ncia distingue-se por um grau de certeza alto, desfrutando assim de uma posi o privilegiada com rela o aos demais tipos de conhecimento (o do homem comum, por exemplo).

conduzidas por Francis Bacon (1561-1626). Secundadas no século XVII por declarações de eminentes cientistas, como Galileo, Newton, Boyle, e, no século seguinte, pelos Enciclopedistas, suas teses passaram a gozar de ampla aceitação até …

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1 O QUE CI NCIA? SILVIO SENO CHIBENI Departamento de Filosofia - IFCH - Unicamp - ~chibeni Resumo: Este trabalho apresenta para um p blico geral algumas das principais concep es de ci ncia defendidas por fil sofos da ci ncia desde o surgimento da ci ncia moderna, no s culo XVII. Procura-se destacar que essas concep es evolu ram na dire o de uma melhor adequa o ao que de fato se verificou na hist ria da ci ncia. ndice: 1. A vis o comum de ci ncia .. 1 2. Obje es vis o comum da ci 3 3. Popper e o 6 4. Limita es do falseacionismo .. 8 5. Lakatos: uma vis o contempor nea da ci ncia .. 12 Refer 16 1. A vis o comum de ci ncia Constitui cren a generalizada que o conhecimento fornecido pela ci ncia distingue-se por um grau de certeza alto, desfrutando assim de uma posi o privilegiada com rela o aos demais tipos de conhecimento (o do homem comum, por exemplo).

2 Teorias, m todos, t cnicas, produtos, contam com aprova o geral quando considerados cient ficos. A autoridade da ci ncia evocada amplamente. Ind strias, por exemplo, freq entemente rotulam de cient ficos processos por meio dos quais fabricam seus produtos, bem como os testes aos quais os submetem. Atividades v rias de pesquisa nascentes se auto-qualificam cient ficas , buscando afirmar-se: ci ncias sociais, ci ncia pol tica, ci ncia agr ria, etc. Essa atitude de venera o frente ci ncia deve-se, em grande parte, ao extraordin rio sucesso pr tico alcan ado pela f sica, pela qu mica e pela biologia, principalmente. Assume-se, impl cita ou explicitamente, que por detr s desse sucesso existe um m todo especial, uma receita que, quando seguida, redunda em conhecimento certo, seguro.

3 A quest o do m todo cient fico tem constitu do uma das principais preocupa es dos fil sofos, desde que a ci ncia ingressou em uma nova era (ou nasceu, como preferem alguns), no s culo XVII. Formou-se em torno dela e de outras quest es correlacionadas um ramo especial da filosofia, a filosofia da ci ncia. Investiga es pioneiras sobre o m todo cient fico foram 2conduzidas por francis bacon (1561-1626). Secundadas no s culo XVII por declara es de eminentes cientistas, como Galileo, Newton, Boyle, e, no s culo seguinte, pelos Enciclopedistas, suas teses passaram a gozar de ampla aceita o at nossos dias, n o tanto entre os fil sofos, mas principalmente entre os cientistas, que at hoje muitas vezes afirmam seguir o m todo baconiano em suas pesquisas.

4 Isso singular, visto que os estudos recentes em hist ria da ci ncia v m revelando que os m todos efetivamente empregados pelos grandes construtores tanto da ci ncia cl ssica quanto da moderna t m pouca conex o com as prescri es do fil sofo ingl s. De forma simplificada, podemos identificar nas m ltiplas variantes dessa vis o da atividade cient fica e da natureza da ci ncia a que chamaremos vis o comum da ci ncia algumas pressuposi es centrais: a) A ci ncia come a por observa es. bacon prop s que a etapa inicial da investiga o cient fica deveria consistir na elabora o, com base na experi ncia, de extensos cat logos de observa es neutras dos mais variados fen menos, aos quais chamou t buas de coordena es de exemplos (Novum Organum, II, 10).

5 Como exemplo, elaborou ele mesmo uma lista de exemplos de corpos quentes, visando a iniciar o estudo cient fico do calor. Essa t bua ent o complementada por duas outras, igualmente de longa extens o, reunindo casos negativos (corpos privados de calor) e casos de corpos que possuem uma disposi o para o calor. b) As observa es s o neutras. As referidas observa es podem e devem ser feitas sem qualquer antecipa o especulativa, sem qualquer diretriz te rica. A mente do cientista deve estar limpa de todas as id ias que adquiriu dos seus educadores, dos te logos, dos fil sofos, dos cientistas; ele n o deve ter nada em vista, a n o ser a observa o pura.

6 C) Indu o. As leis cient ficas s o extra das do conjunto das observa es por um processo supostamente seguro e objetivo, chamado indu o, que consiste na obten o de proposi es gerais (como as leis cient ficas) a partir de proposi es particulares (como os relatos observacionais). Servindo-nos de uma ilustra o simples, a lei segundo a qual todo papel combust vel seria, segundo a vis o que estamos apresentando, obtida de modo seguro de um certo n mero de observa es de peda os de papel que se queimam. A lei representa, pois, uma generaliza o da experi ncia. O processo inverso, de extra o de proposi es particulares de uma lei geral, assumida como verdadeira, cai no dom nio da l gica, sendo um caso de dedu o.

7 Durante a primeira metade do s culo XX, uma pl iade de eminentes fil sofos empreendeu aperfei oar aquilo que vimos denominando de concep o comum de ci ncia, em um sofisticado programa filos fico, conhecido como positivismo l gico. Esse movimento, cujo n cleo original 3formou-se em torno do chamado C rculo de Viena, na d cada de 1920, exerceu uma influ ncia marcante sobre a comunidade cient fica, que perdura at nossos dias, n o obstante cr ticas severas ao positivismo l gico haverem surgido ainda na d cada de 1930. 2. Obje es vis o comum da ci ncia Iniciemos nossa simplificada exposi o das obje es vis o comum da ci ncia examinando brevemente a quest o da justifica o da indu o.

8 Dentro do mbito restrito de nossa discuss o, o processo dedutivo n o apresenta maiores dificuldades; podemos assumir que se a verdade de uma proposi o estiver assegurada, tamb m o estar a de todas as proposi es que dela decorrerem dedutivamente, pelo uso das leis da l gica. Tais leis, no entanto, n o asseguram a validade do processo indutivo. Voltando ao nosso exemplo, nenhum conjunto de observa es de incinera o de peda os de papel, por maior e mais variado que seja, suficiente para justificar logicamente a lei segundo a qual todo papel combust vel. N o h contradi o formal, l gica, em se afirmar que embora todos os peda os de papel j examinados tenham se queimado, esta folha n o combust vel.

9 Isso pode contrariar o senso-comum, as leis da qu mica e da f sica, mas n o as da l gica. Eliminada a possibilidade de justifica o l gica, resta, segundo os pressupostos empiristas dos pr prios defensores dessa concep o, unicamente a justifica o emp rica. No entanto, os fil sofos John Locke e David Hume apontaram, nos s culos XVII e XVIII, que a justifica o emp rica da indu o envolve dificuldades insuper veis. Essa constata o veio a exercer uma enorme influ ncia na filosofia, estimulando, por um lado, a retomada de doutrinas racionalistas (Kant) e, por outro, a reformula o dos objetivos empiristas, com o reconhecimento de que o ideal original de certeza e infalibilidade do conhecimento geral do mundo exterior n o pode ser atingido.

10 Procurou-se, assim, determinar condi es nas quais o salto indutivo seja feito da maneira mais segura poss vel. Entre as condi es que t m sido propostas destacar amos: d) o n mero de observa es de um dado fen meno deve ser grande; e) deve-se variar amplamente as condi es em que o fen meno se produz; e f) n o deve existir nenhuma contra-evid ncia, , observa o que contrarie a lei. 4 Embora pare am prima facie razo veis, um pouco de reflex o e inspe o cuidadosa da hist ria da ci ncia revelam que tais condi es n o s o nem suficientes para garantir as infer ncias indutivas, nem necess rias ao estabelecimento de nossas melhores teorias cient ficas. Que n o s o suficientes para assegurar a validade do processo indutivo j est claro de nossas considera es anteriores.


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