A Construção do Pensamento e da Linguagem

1 A Constru o do Pensamento e da Linguagem L. S. Vigotski Martins Fontes A s' quest es fundamentais do Pensamento infantil Esta edi o de A constru o do Pensamento e da Linguagem oferece ao p blico brasileiro a oportunidade de conhecer na ntegra este livro em que Vigotski estuda quest es fundamentais do Pensamento infantil, formula concep es inteiramente novas para a poca em que o escreveu, articula seu Pensamento em um bem urdido aparato conceituai e sedimenta o processo infantil de aquisi o da Linguagem e do conhecimento com um sistema de categorias bem definidas, subordinando todo o seu trabalho a uma clara orienta o epistemol gica. E com essa vis o epistemol gica que Vigotski discute as teorias de Piaget e Stern em tom elevado e respeitoso, mas sem perder a perspectiva cr tica. C A PA. Projeto g r fic o Alexandre M artins Fontes Katia Harumi Terasaka Ilustra o Rex Design A CONSTRU O. DO Pensamento . EDA Linguagem . L. S. Vigotski A CONSTRU O. DO Pensamento . EDA Linguagem . (Texto integral, traduzido do russo Pensamento e Linguagem ).

2 Tradu o: PA ULO B E Z E R R A - P ro fesso r L ivre-D ocente em L iteratura R u ssa p e la USP. Martins Fontes S o Paulo 2001. E sta obra f o i p u b lica d a originalm ente em russo com o t tulo M IC H U N IE l RIE T C H . C opyright Vigotskiy L . S., M oscow. C opyright 2001, L ivraria M a rtin s Fontes E ditora L S o Paulo, p a r a a p resente edi o. I a ed i o m ar o d e 2001. T radu o PAU LO BEZE R R A. R evis o gr fica Teresa C ec lia de O liveira R am os A n a L uiza Fran a P rod u o gr fica G eraldo Alves Pagina o/FotoJitos Studio 3 D esenvolvim ento E ditorial Dados Internacionais de Cataloga o na Publica o (CIP). (C m ara Brasileira do Livro, SP, Brasil). Vigotsky, Lev S em enovich, 1869-1934. A constru o do pensam ento c da Linguagem / L. S. Vigotski ;. tradu o P aulo B ezerra. - S o P aulo : M artins F ontes, 2000. - (P sicologia e pedagogia). T tu lo original: M ichli nie I. R ieteh. IS B N 85-336-1361-X. 1. L inguagem 2. P ensam ento 3. P sicologia infantil I. T tulo.

3 II. S rie. 00-5179_____ C D D n d ice s para cat logo sistem tico: 1. P ensam ento c lin g u ag em : C onstru o : P sicologia infantil 2. L inguagem e p ensam ento : C onstru o : P sicologia infantil Todos os direitos para a l ngua portuguesa reservados . Livraria Martins Fontes Editora Ltda. Rua Conselheiro Ramalho, 3301340. 01325-000 S o Paulo SP Brasil Tel. (11)239-3677 Fax (11) 3105-6867. e-mail: info@ m ndice Pr logo do tradutor VII. Pref cio do autor X V. 1. O problema e o m todo de investiga o 1. 2. A Linguagem e o Pensamento da crian a na teoria de Piaget 19. 3. O desenvolvimento da Linguagem na teoria de Stern 97. 4. As ra zes gen ticas do Pensamento e da Linguagem 111. 5. Estudo experimental do desenvolvimento dos conceitos 151. 6. Estudo do desenvolvimento dos conceitos cient ficos na inf ncia 241. 7. Pensamento epalavra 395. Bibliografia 487. Rela o das obras do professor L. S. Vigotski 491. Pr logo do tradutor Esta edi o de A constru o do Pensamento e da lingua.

4 Gem oferece ao p blico brasileiro a oportunidade de conhecer na ntegra este livro em que Vigotski estuda quest es funda . mentais do Pensamento infantil, formula concep es inteira . mente novas para a poca em que o escreveu, articula seu pen . samento em um bem urdido aparato conceituai e sedimenta o processo infantil de aquisi o da Linguagem e do conhecimento com um sistema de categorias bem definidas, subordinando todo o seu trabalho a uma clara orienta o epistemol gica. E . com essa vis o epistemol gica que Vigotski discute as teorias de Piaget e Stern em tom elevado e respeitoso, mas sem perder a perspectiva cr tica. A edi o anterior, Pensamento e Linguagem , lan ada pela Martins Fontes e j em 5? reimpress o, foi traduzida a partir de uma tradu o para o ingl s resumida e realizada por E. Hanf- mann e H muitas repeti es na edi o original russa. Coisa natu . ral, pois v rios dos textos foram escritos ou ditados por Vi . gotski j em fase terminal da tuberculose que lhe ceifou a vida aos 38 anos.

5 Por outro lado, algumas (n o todas!) das repeti . es devem-se ao pr prio estilo pol mico de Vigotski, forma s vezes sinuosa da sua reflex o, a uma esp cie de ansiosa ne- VIII A constru o do Pensamento e da Linguagem cessidade de demonstrar postulados te ricos com base em ma . t ria emp rica, o que torna algumas afirma es vigotskianas fortemente categ ricas. Contudo, ao constatar-se a repeti o . necess rio que se tenha em vista o contexto em que ela ocorre, pois s assim poss vel verificar se o autor cometeu algum lapso ou v cio de racioc nio ou a est usando para refor ar al . gum tipo de reflex o. O segundo caso o mais comum em Vi- gotski, e por esta raz o mantive o texto na ntegra na certeza de que o pr prio leitor resolver a seu modo a quest o. Toda tradu o um desafio de ordem v ria, e esta n o fu . giu regra. Exigiu da minha parte um cuidado especial com o inacabamento estil stico de alguns par grafos (no primeiro ca . p tulo havia um par grafo de sete p ginas!), mas exigiu princi.

6 Palmente uma tomada de posi o em face do aparato conceituai empregado pelo autor em fun o da fluidez de algumas palavras da l ngua russa, que s o conceitos-chave neste livro. Refiro-me especificamente s palavras russas obutch nie e ri tch. Em um a primeira inst ncia, a palavra obutch nie deriva do verbo obutch t verbo transitivo direto que significa ensinar, ilustrar, adestrar, transmitir algum conhecimento ou habilidade a al . gu m, disciplinar. Em outra inst ncia, obutch nie deriva do verbo obutch tsya, transitivo indireto que significa ser ensina . do, aprender, assimilar conhecimentos, estudar alguma coisa. Partindo da elasticidade sem ntica dessa palavra e do fato de que Vigotski (que emprega a mesma palavra obutch nie para ensino e aprendizagem ) cria toda uma teoria da educa o, mas o faz menos como pedagogo e mais como psic logo, traduzi . mos obutch nie quase sempre por apren dizagem e s raramen . te por ensino, porque o autor trata muito mais dos processos cognitivos, da aquisi o de conte dos e sistematiza o dos co.

7 Nhecimentos. Al m das considera es aqui levantadas, fui le . vado a essa atitude por uma s ria diverg ncia que venho obser . vando entre os estudiosos brasileiros de Vigotski no que tange aplica o do seu sistema de conceitos e categorias. Cito como exemplo dois excelentes livros sobre Vigotski: O p en sam en to Pr logo do tradutor _ IX. de Vygotsky e Bakhtin no B rasil, de Maria Teresa de Assun o Freitas, Papirus Editora, Campinas, 1994, e Vigotski. Uma p e r s . p e c tiv a hist rico-cultural da educa o, de Teresa Cristina Rego, Editora Vozes, Petr polis, 1995. N o se trata da qualidade des . ses dois trabalhos, que s o importantes contribui es para o estudo do Pensamento de Vigotski e para a melhoria dos pro . cessos pedag gicos entre n s, mas da aus ncia de um emprego uniforme de conceitos como ensino e aprendizagem , resultan . do da que as duas pesquisadoras afirmam a mesma coisa para esses dois conceitos. verdade que n o existe uma muralha chinesa entre ensino e aprendizagem , que freq entemente se confundem, mas seria salutar que se desse maior coes o con.

8 Ceituai ao Pensamento de Vigotski para torn -lo mais palat vel aos nossos colegas e alunos. A palavra ri tch em russo significa fala, discurso, lingua . gem, conversa, capacidade de falar. O termo piagetiano lin . guagem egoc ntrica est traduzido para o russo como egot- sen tr tch eskaya ri tch, e assim que Vigotski a emprega. En . tretanto, ao aprofundar a discuss o com Piaget e comparar a Linguagem egoc ntrica com os resultados das suas pr prias ex . peri ncias, Vigotski vai percebendo e pontuando as mudan as que se operam lentamente na pr pria Linguagem egoc ntrica, de onde surgem novas peculiaridades, como a tend ncia para a predicatividade do discurso, para a redu o do seu aspecto f - sico, para a preval ncia do sentido sobre o significado da palavra, para a aglutina o das unidades sem nticas. Tudo isso junto vem mostrar que a diferencia o das linguagens egoc ntrica e social acaba gerando uma nova modalidade de Linguagem que Vigotski chama de vn tri nnaya ri tch, isto , discurso inte.

9 Rior, mas que eu mantive como Linguagem interior por uma quest o de coer ncia terminol gica, uma vez que a Linguagem egoc ntrica (egotsentr tcheskaya ri tch) de Piaget tamb m . ri tch e foi de sua evolu o que Vigotski chegou formula o da Linguagem ou discurso interior. Vigotski estabelece dois processos de funcionamento dessa Linguagem -discurso: a exte- X A constru o do Pensamento e da Linguagem rior um processo de transforma o do Pensamento em pala . vras, uma materializa o e uma objetiva o do Pensamento ;. a Linguagem (discurso) interior, ao contr rio, um processo que se realiza como que de fora para dentro, um processo de eva . pora o da Linguagem (discurso) no Pensamento . Contudo, a Linguagem (discurso) n o desaparece em sua forma interior. A. consci ncia n o evapora de todo nem se dissolve no esp rito puro. N o obstante, a Linguagem (discurso) interior uma lin . guagem (discurso), isto , um Pensamento vinculado palavra. E, se o Pensamento se materializa na palavra na Linguagem (dis.)

10 Curso) exterior, a palavra morre na Linguagem (discurso) inte . rior, gerando o Pensamento . A Linguagem (discurso) interior . um momento din mico, inst vel e fluido, que se insinua rapida . mente entre os p los extremos melhor enformados do pensamen . to verbal: entre a palavra e o Pensamento . Trata-se de uma modalidade de discurso inteiramente nova descoberta por Vigotski a partir da an lise da Linguagem ego . c ntrica da crian a em Piaget, raz o por que mantive o termo Linguagem em vez de discurso. Outro conceito criado por Vigotski diz respeito ao proces . so de aprendizagem e chegou ao Brasil como zo n a de desen . volvim en to p roxim al. um conceito que j se encontra em P sico lo g ia p e d a g g ic a (no prelo pela Martins Fontes) e mere . ce um esclarecimento parte. Trata-se de um est gio do pro . cesso de aprendizagem em que o aluno consegue fazer sozinho ou com a colabora o de colegas mais adiantados o que antes fazia com o aux lio do professor, isto , dispensa a media o do professor.