Example: biology

Maria Francelina Trenes, a Maria Degolada, e a …

Maria Francelina Trenes, a Maria Degolada, e a Popula o Urbana Marginal em Porto Alegre na virada do S culo XIX. Publicado no site em 12/12/2008. Carlos Daniel de Castilhos*, Prof. Dr. N ncia Maria S. de Constantino** (Orientadora). Resumo: O texto relata a rela o da pessoa de Maria Francelina Trenes, que conhecida at os dias de hoje como a Maria Degolada , como uma representante de uma imigra o alem que n o deu certo e vivia junto com a camada marginal da cidade de Porto Alegre nesse final do s culo XIX. Abstract: The text talks about the relation of the person Maria Francelina Trenes, who is known until the present as the Beheaded Maria , as a representative of a German Immigration that didn't works and lived together with the marginal people in the Porto Alegre city in this end of Century XIX.

testemunhas disseram que foi algo muito rápido e nada puderam fazer para salvar a vida da pobre moça. O crime teve grande repercussão na imprensa local, jornais como o Jornal do Comércio,

Tags:

  Crime

Information

Domain:

Source:

Link to this page:

Please notify us if you found a problem with this document:

Other abuse

Transcription of Maria Francelina Trenes, a Maria Degolada, e a …

1 Maria Francelina Trenes, a Maria Degolada, e a Popula o Urbana Marginal em Porto Alegre na virada do S culo XIX. Publicado no site em 12/12/2008. Carlos Daniel de Castilhos*, Prof. Dr. N ncia Maria S. de Constantino** (Orientadora). Resumo: O texto relata a rela o da pessoa de Maria Francelina Trenes, que conhecida at os dias de hoje como a Maria Degolada , como uma representante de uma imigra o alem que n o deu certo e vivia junto com a camada marginal da cidade de Porto Alegre nesse final do s culo XIX. Abstract: The text talks about the relation of the person Maria Francelina Trenes, who is known until the present as the Beheaded Maria , as a representative of a German Immigration that didn't works and lived together with the marginal people in the Porto Alegre city in this end of Century XIX.

2 Palavaras chaves: Hist ria Social, Sociedade Urbana, Imigra o Alem , Devo o Marginal. Key words: Social History, Urban Society, German Immigration, Marginal Devotion. Em Porto Alegre, dentro do bairro Partenon, existe um morro vulgarmente chamado de Morro da Maria Degolada. Dizem que l morreu uma jovem, degolada pelo amante brigadiano 1, e quem rezar para ela, tem sua gra a alcan ada. S n o pode ser pedido de um brigadiano, pois, como foi morta por um, o infeliz corre o risco de ter seu pedido atendido ao contr rio. Nenhum dos moradores do dito morro sabe ao certo quando ocorreu o crime , sabem que a hist ria vem passando de gera o a gera o, por meio da oralidade, e acreditam fielmente na sua santinha , tanto que em cima do morro, no interior dessa pequena vila, existe uma capelinha azul onde os fi is acendem velas, colocam suas oferendas e fotos de agradecimentos pelas gra as alcan adas.

3 Esse o mito da Maria Degolada, t pica devo o marginal, uma interface do imagin rio religioso, t o comum no catolicismo brasileiro. Segundo o antrop logo Jos Carlos Pereira, ela faz parte do grupo das chamadas santas de cemit rio que corresponde, na maioria dos casos, a algu m que sofreu morte violenta, seja por acidente, assassinato ou tortura seguida de morte 2.. Mas at que ponto essa hist ria ver dica? Existiu mesmo essa Maria Degolada? Em 1994 uma equipe do Arquivo P blico do Estado do Rio Grande do Sul desenvolveu um grande trabalho em cima dos documentos existentes sobre o caso e montou um livro intitulado: Maria Degolada, mito ou realidade?

4 Uma cole o de documentos, contendo desde atestados de bito, processo judici rio, at reportagens da poca, mostrando n o somente que Maria Degolada existiu como nos d um panorama muito maior da repercuss o que o crime gerou. Descobriu se ent o que Maria Degolada era na verdade Maria Francelina Trenes3, de nacionalidade alem , prostituta, de 21 anos, que, no dia 12 de novembro de 1899 foi morta pelo amante, Bruno Soares Bicudo4, soldado da Brigada Militar, analfabeto e natural de Uruguaiana. Os relatos nos autos do processo referem que o casal, juntamente com outros pares, foi fazer um piquenique no Morro do Hosp cio, o atual Morro da Maria Degolada, que fica em frente ao Hospital Psiqui trico S o Pedro.

5 Em uma determinada hora Maria e Bruno se separaram dos demais e, depois de uma discuss o, enciumado, Bruno pega uma faca e degola sua amada. As testemunhas disseram que foi algo muito r pido e nada puderam fazer para salvar a vida da pobre mo a. O crime teve grande repercuss o na imprensa local, jornais como o Jornal do Com rcio, o Correio do Povo e a Gazetinha noticiaram o caso com grande horror, todos comovidos pela mo a que fora brutalmente assassinada. Em uma cidade que, nessa virada de s culo, estava ficando cada vez mais urbanizada e povoada, um crime desse porte era considerado um ato de barb rie.

6 Tamb m n o podemos esquecer que a famosa Revolu o Federalista5, vulgarmente chamada de Revolta da Degola, ocorrera h poucos anos, e o horror pelo ato da degola estava presente no subconsciente coletivo da popula o. Popula o essa que era composta por v rias etnias, desde lusobrasileiros, africanos, judeus, italianos, a orianos, alem es, como o caso da Maria Francelina , entre outros. Essa pluralidade de etnias muitas vezes gerava rixas entre grupos e culminava com a forma o de guetos tnicos, aonde a popula o ia se distribuindo conforme o seu grupo. A cidade era governada por uma elite ilustrada e cientificizada 6 que assumira o poder com a proclama o da Rep blica em 1889.

7 E, em um governo que tinha o positivismo de Comte como matriz de a o, disciplinar, controlar, vigiar, punir e excluir os infratores eram tarefas de primeira inst ncia, uma vez que o progresso s viria com a ordem. Sendo Porto Alegre uma capital de passagem, aonde muitos navios atracavam no porto do Gua ba, sem falar nas caravanas que usavam a cidade como itiner rio, atra a uma grande leva de vagabundos e desocupados, o que dava a pol cia local muito trabalho. comum encontrarmos nos arquivos p blicos processos envolvendo brigas, assassinatos e desordem cometidos por esses transeuntes, e n o s eles, muitos imigrantes, tanto italianos como alem es, muitas vezes estavam nos autos policiais.

8 Por m tamb m era comum caso de crimes cometidos pelos imigrantes que ali viviam. A historiografia da imigra o no Brasil muito rica, em se falando de imigra o rural, entretanto, quando o assunto imigra o urbana temos apenas poucas obras falando a respeito. No caso de Maria Francelina , temos uma imigrante alem jovem, loira e, segundo consta nos documentos do caso, muito bonita que era uma prostituta pobre e solteira, tendo se amasiado com o brigadiano Bicudo, este um mesti o. Essa uma imagem bem diferente daquele estere tipo que existe onde, segundo Pesavento7, o negro o criminoso, o ladr o, vagabundo, o mesti o o pov o e a apar ncia do imigrante europeu nos leva a pensar no indiv duo trabalhador e honesto.

9 No entanto, esses estere tipos, no momento que s o postos em pr tica n o conseguem se concretizar, n o funcionam como regra social, e Maria Francelina um exemplo concreto de que no grande processo da imigra o europ ia existiram pessoas que ficaram no caminho, ou melhor, ficaram margem dessa sociedade idealizada. Magda Gans, em seu estudo sobre os teutos em Porto Alegre no s culo XIX, nos relata que existiam poucos imigrantes alem es em situa o de pobreza ou mis ria, mas que essas informa es fragment rias obtidas n o s o sen o um ind cio de que havia teutos constituindo as camadas baixas da popula o da capital 8.

10 E essas escassas informa es resultam do fato de esses teutos pobres n o terem um local de moradia espec fico, a n o ser uma pequena concentra o no Arraial Floresta9, onde existiam cervejarias e f bricas na qual eles trabalhavam. Ent o, partindo desse princ pio, tentar localizar de que parte da cidade a jovem Trenes poderia ter morado acaba sendo um trabalho praticamente imposs vel, por m, se levarmos em conta a profiss o da mo a, podemos ent o tra ar uma poss vel rea, uma vez que Porto Alegre tinha regi es onde a prostitui o se encontrava de forma mais intensa. Nesse final de s culo, os bord is n o estavam mais restritos aos becos do centro, como na pra a do Para so e na rua Riachuelo, o fervor da vida noturna porto alegrense havia espelhando as casas de prostitui o para a Cidade Baixa at o Arraial de S o Jo o.


Related search queries